*Saramago*

     

BIOGRAFIA SEM SARAMAGO

 

 

 

       Saramago poderá ser visto como o vulgar ou o extraordinário invulgar. Se no primeiro se assume como pessoa, no segundo veste a roupa de escritor. Saramago seria uma mistura de realidade e irrealidade, vivendo talvez por isso no meio destes dois conceitos, distinguindo-se nas palavras pelo seu dote natural e espontâneo de relatar com esplendor o que o universo lhe oferecia: viveu a vida em palavras! Não foi mais do que o obreiro da fantasia, da história que nunca ninguém contou - em sentimentos descritos pelo amor que lhe corria nas veias - fazendo uma vida de observador.

       A pessoa Saramago era humana e como tal normal o era, já o Saramago que se conhece em escrita era, é e será um autêntico Deus para quem da sua obra vislumbra o seu significado encoberto em cada palavra. O sopro final dita as memórias que desvanecem nas lágrimas dos poucos que recordam uma simples vida, descrita numa bibliografia feita de datas e dados pessoais que não demonstram o seu verdadeiro triunfo. As honras de um prémio e as obras em si mesmas nada nos dizem, isto porque a beleza está em compreender a simplicidade de como um indivíduo conseguiu preconizar cada momento e sentimento com um beleza infinita, dotada de palavras que ganham vida em cada frase. 

        Em Saramago escrever é obrar um texto que marque gerações inteiras, faça fundir num pensamento momentâneo o universal, abalando corações, lembrando-nos do mais básico daquilo que somos feitos. Esta escrita atemporal faz a sua História no retrato dos rostos de quem lê, criando um universo particular onde só acede quem na alma sente o valor de cada palavra como sendo um mar de sentidos perfeitos.

        O mestre da escrita é e será, sem dúvida, aquele que recortou os sentimentos vividos por aqueles que amam a sua obra e que valorizam o sentido das coisas não mais que o puro sentido da vida. Assim, escrever terá significado se mudar vidas, se demonstrar capacidade de rasgar sorrisos, criar tristezas ou até mesmo vincar pensamentos profundos, porque a escrita que nada disto crie é um vazio tremendo.